Mercado, educação e o ecossistema educacional básico no Brasil

Por que Mercado & Educação?

Mercado, educação e o ecossistema educacional básico no Brasil. A importância da educação e a evolução do ecossistema.

A educação é um dos mais importantes pilares de sustentação nacional. O progresso de uma nação tem entre seus elementos principais uma educação de qualidade. Para além do aumento de renda individual, o índice de escolaridade de um país reflete na qualidade de vida de toda uma nação, na economia do país, na felicidade, potência tecnológica, na saúde, na democracia e nos mais variados assuntos.

Nos últimos anos um mercado tem se formado em torno da educação básica, levantando novas soluções que ocupam lacunas no sistema educacional brasileiro. A participação de grupos educacionais, o surgimento de outros, o crescente aumento das edtechs, as discussões acerca do papel da escola, sua forma de ensinar e avaliar, são fontes de oportunidade para um crescimento que iremos vislumbrar nos próximos anos.

A criação de um site agregador de notícias sobre o mercado educacional tem motivação em entender, acompanhar e discutir sobre este ainda incipiente mercado em constante crescimento que tem se formado na educação, em seus desdobramentos, desafios, negócios e inovações.

Breve contexto da educação básica no Brasil

Apesar do acesso a educação já ter amplitude para toda a população, poucos ainda concluem o ensino médio, destes que finalizam os anos escolares, um significativo percentual ainda apresenta deficiência na aprendizagem de português e matemática. A consequência é permanecer nas últimas colocações na avaliação de desempenho escolar Pisa.

Para cada 100 estudantes que ingressam na escola, 89 concluem o Ensino Fundamental, sendo 48% com uma aprendizagem defasada em matemática. 78 conseguem concluir a segunda etapa do fundamental e o percentual de aprendizagem adequada em matemática bate 21,5% e em português 39,5%. 65 alunos finalizam o ensino médio com até 19 anos e a aprendizagem adequada para matemática e português desmoronam para 9,1% e 29,1% respectivamente.

Dados: Anuário Brasileiro de Educação Básica

Modelo escolar tradicional em xeque?

Carteiras enfileiradas, aulas centradas no professor e disciplinas estáticas. O modelo tradicional que respondia a demanda industrial vem sendo consistentemente questionado, isso porque o mundo mudou e consequentemente os alunos não são os mesmos e nem sua forma de interagir e aprender.

Metodologias ativas, educação centrada no aluno, multidisciplinar e interdisciplinaridade, interação, desenvolvimento de criticidade, capacidade de aprender a aprender, cultura de colocar a mão na massa e a ampliação do uso das tecnologias, correspondem a algumas das novas demandas do perfil contemporâneo que se encontram massivamente sendo discutidos para pensar o novo modelo escolar.

Educação e a pandemia do coronavírus

O vírus covid-19, que até então estava se espalhando apenas nos continentes asiático e europeu, começa a dar as caras no Brasil em meados de março de 2020. Em uma medida de contenção do vírus alinhada aos movimentos internacionais, o Brasil inicia um trabalho de fechamento dos estabelecimentos. Medida que afastou, fisicamente, milhões de jovens e crianças das escolas. A transição digital, ainda embrionária no setor educacional básico, teve de acontecer as pressas, isso porque os alunos deviam continuar os estudos mesmo estando em casa.

A tragédia evidenciou as vulnerabilidades da educação. As escolas que possuíam recursos e tecnologias conseguiram responder mais rapidamente a demanda das aulas à distância. No entanto, as secretarias que estavam despreparadas para atender os alunos remotamente na educação pública demorou para responder e algumas regiões do Brasil ficaram por meses sem uma maneira eficiente de dar aulas. Isso aumentou a discrepância entre o ensino público e privado com consequências catastróficas para esses alunos e o para a o país. No Brasil, em geral, a orientação dos professores aos alunos por meio de aplicativos e redes sociais foi a estratégia mais usada,  mas a medida ainda não resolvia o problema dos alunos sem acesso a internet, que neste caso foi amenizada em algumas cidades com a entrega de materiais impressos.

Além do calamitoso problema causado na aprendizagem dos jovens e adolescentes, a Secretaria de Política Econômica (SPE) divulgou, por meio do Boletim Macrofiscal que o impacto causado pela pandemia na educação podem reverberar por 15 anos na economia brasileira.

76,86% das escolas do Brasil são públicas

No Brasil existem atualmente 182.468 escolas de educação básica ativas, sendo 23,14% escolas privadas somando um total de 42.226.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: Número de escolas públicas e privadas - dados: inepdata 08/21
Número de escolas públicas e privadas – dados: inepdata 08/21

As escolas, distribuídas em todas as regiões do Brasil, tem maior concentração no estado de São Paulo.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: Número de escolas por estado - dados: Inepdata
Número de escolas por estado – dados: Inepdata

A maioria dos alunos da educação básica estão nos anos fundamentais e a maior concentração está no sudeste

São 47.874.246 de alunos entre escolas estaduais, federais, municipais e privadas.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: Percentual de escolas por dependência administrativa - dados: inepdata
Percentual de escolas por dependência administrativa – dados: inepdata

Os alunos estão distribuídos em todas as regiões do país. Novamente, como se vê na imagem abaixo, a maior concentração se encontra na região sudeste.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: Número de alunos por região - dados: censo escolar
Número de alunos por região – dados: censo escolar

Na distribuição por etapa, a grande maioria dos alunos estão na etapa fundamental, seguido dos alunos de educação infantil e do ensino médio.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: Distribuição de alunos por etapa de ensino * 2019 - dados: censo escolar
Distribuição de alunos por etapa de ensino * 2019 – dados: censo escolar

O Brasil tem mais de 2 milhões de professores

O Brasil conta com um total de 2.212.018 professores, destes 23,3% são professores de escolas privadas e 76,7% são professores em escolas públicas. Mais de 85% dos professores cursaram o ensino superior, entretanto, nos anos finais do fundamental e médio apenas 56,8% e 63,3% respectivamente lecionam em sua área de formação.

Número de docentes em escolas públicas e privadas do Brasil
Mercado, educação e o ecossistema educacional: número de docentes nas escolas de educação básica - dados: censo escolar
número de docentes nas escolas de educação básica – dados: censo escolar

Os professores, de maneira geral, sofrem com baixos salários e dupla – quando não tripla – jornada com a intenção de somar remuneração. Isso influencia na qualidade do ensino, uma vez que não disponibilizam de tempo para preparo da aula.

Além dos docentes, o Brasil conta com 161.426 diretores na educação básica. Mais da metade exercem o cargo exclusivamente por indicação e 13,4% por ser proprietário ou sócio da escola em que atuam.

Mercado e o ecossistema da educação básica

A atual situação do mercado, educação e do ecossistema educacional básico apresenta desenvolvimento. A gestão escolar é descentralizada, tem baixa profissionalização e se divide em diferentes perfis, favorecendo as estratégias de expansão por aquisição dos grupos educacionais. As escolas e alunos da rede privada permanecem em crescimento e o comportamento do mercado tem favorecido o surgimento de novas empresas.

Taxa de escolas e alunos da rede privada apresentaram crescimento nos últimos anos

O número de escolas privadas vem subindo nos últimos anos em uma taxa média de 1,72% por ano como mostra o gráfico abaixo, mesmo passando por períodos de recessão e alta incerteza econômica.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: evolução do número de escolas particulares - dados: censo escolar
evolução do número de escolas particulares – dados: censo escolar

Com o número de alunos a taxa de crescimento foi de 2,49% por ano.

Mercado, educação e o ecossistema educacional: evolução do número de matrículas nas escolas privadas - dados: censo escolar
evolução do número de matrículas nas escolas privadas – dados: censo escolar

Grupos educacionais e o cenário favorável para o mercado de educação básica

Afora a Pandemia que desacelerou circunstancialmente o crescimento do setor de educação básica no Brasil, o momento é propício. Investidores que anteriormente foram atraídos pelas políticas de acesso do ensino superior estão se voltando para a educação básica, enxergando oportunidades que estão se traduzindo em um mercado aquecido.

As movimentações já aconteciam previamente. Contudo, o evento-referência na virada de grandes grupos educacionais para educação básica acontece com o impedimento da fusão entre Kroton e Estácio pelo Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2017. Uma transação avaliada em R$ 5,5 bilhões. À época, o ocorrido aliado a alta concentração das matrículas em poucos players, indicava uma evidente saturação no setor.

Neste cenário, surge um consenso sobre oportunidades de negócio na educação básica. De lá até aqui, inúmeras movimentações relevantes no mercado aconteceram. Cito algumas como exemplo: aquisição da Somos pela Cogna (ex Kroton), novos grupos começam a ganhar espaço como Bahema, Rede Decisão, Inspira Rede de Educadores e Camino Education. IPO da Arco Educação e da Vasta Educação, troca de ativos entre Cogna e Eleva Educação e mais recentemente a aquisição dos sistemas de ensino COC e Dom Bosco pela Arco, abertura de capital da Cruzeiro do Sul e a intenção de IPO da Eleva Educação e do Grupo SEB para escolas Maple Bear e perfil de escolas Premium.

Para pouco mais de 2.000 universidades privadas no Brasil, temos mais de 40.000 escolas particulares. O mercado descentralizado, favorece as aquisições, isso acelera a estratégia de crescimento nos grandes grupos educacionais. Escolas contam excelente LTV, receita previsível, uma vez que o ticket é conhecido ao longo do tempo, boa retenção e baixa inadimplência em condições normais.

Para além das escolas particulares, existem empresas editoriais e soluções B2C que atendem dependências administrativas públicas. Somadas, as escolas, representam um mercado educacional e um ecossistema educação básico mais de 180 mil instituições de ensino e um universo de 47 milhões de alunos.

Movimentação financeira na educação básica no Brasil propicia o surgimento de edtechs

O mercado de educação básica privado girou R$ 100 bilhões em 2019. 60% em matrículas e mensalidades e 40% em serviços complementares. Este último, representa um atrativo a mais para investimentos na educação básica. As famílias desembolsam R$ 40 bilhões em programas educacionais suplementares como reforço escolar e atividades extracurriculares.

A disposição a pagar das famílias por atividades complementares que fortaleçam o aprendizado, criam um cenário fértil para o mercado, educação e o ecossistema educacional básico no surgimento de diversas soluções que se propõem a resolver as lacunas existentes na educação básica.

As edtechs cresceram principalmente nas plataformas de EAD e cursos

Atualmente existem 559 startups com negócios focados em educação, conhecidas como edtechs. Em sua grande maioria, essas empresas estão concentradas na região sudeste do país, mas com parte significativa na região Sul. O crescimento aconteceu em uma média de 53 novas edtechs por ano, com maior velocidade entre 2014 e 2018 e grande desaceleração nos últimos 2 anos. Vale pontuar que o baixo número registrado nos últimos anos deve considerar a dificuldade de mapear empresas recém-fundadas. As edtechs atuam no ensino básico, mas também no ensino superior, educação continuada, corporativa e soluções que abrangem dois ou mais estágios.

Número de Edtechs nos últimos 10 anos
Mercado, educação e o ecossistema educacional: Número de Edtechs mapeadas nos últimos 10 anos - dados: distrito.me
Número de Edtechs mapeadas nos últimos 10 anos – dados: distrito.me

As soluções existentes no mercado de edtechs resolvem os mais variados problemas na educação

Há diversas empresas atuando no setor educacional. Em especial, na educação básica, temos edtechs com soluções voltadas as mais diversas categorias. Algumas se propõe a entregar um ensino bilíngue, ensinar por meio de projeto, formar leitores e escritores, implementar uma cultura maker, trazer noções de robótica e programação, educar socioemocional e financeiramente, levar e trazer alunos em segurança, inteligência artificial aplicada a educação, incentivar aprendizagem, além de softwares de gestão, lojas virtuais, bolsas e créditos estudantis entre muitas outras que não param de surgir para suprir alguma necessidade do mercado.

Volume de Edtechs em cada categoria
Distribuição de Edtechs por Categoria - dados: distrito.me
Distribuição de Edtechs por Categoria – dados: distrito.me

Conclusão

A conjuntura do mercado que está se formando ao redor da educação, nos dá a dimensão do tamanho do crescimento que vamos presenciar nos próximos anos no setor educacional. Quando se trata de oportunidades de negócios temos inúmeros lacunas a serem preenchidas e bastante espaço para expansão. Vamos visualizar uma enormidade de inovação e testemunhar abundantes mudanças na educação. Na maneira de ensinar, aprender, avaliar, na dinâmica escolar e na forma de administrar e fazer negócios.

Os movimentos de mercado, os grandes grupos, o surgimento de novos grupos, o crescimento e migração das escolas e na base de alunos e o crescente aumento das edtechs com as mais diversas soluções são indícios de um setor em ascensão. Sem negligenciar, é claro, a pandemia que evidenciou inúmeras vulnerabilidades e deixou muitos problemas que persistirão por um longo período.

Com amplos hiatos a serem resolvidos, oportunidades e um mercado em franca evolução, a criação do mercado & educação surge com o intuito de agregar e discutir sobre notícias, dados e informações do mercado, educação e o ecossistema educacional básico, a fim de acompanhar e dar visibilidade aos desdobramentos desta empreitada.

Raphael Santo
Tecnólogo e graduado em Administração na UFSCar. É gerente no marketplace Melhor Escola do Grupo Quero Educação, entusiasta do mundo das vendas e apaixonado pela temática educacional.


Encontrou alguma inconsistência nos dados ou deseja fazer alguma sugestão? Envie e-mail para raphaell.res@gmail.com

3 thoughts on “Mercado, educação e o ecossistema educacional básico no Brasil

  • 24 de julho de 2021 em 19:24
    Permalink

    Oi Raphael !

    Primeiramente, parabéns pelo conteúdo! Reports e insights bem completos e interessantes!

    Em segundo lugar, estou escrevendo um artigo para conclusão de curso referente à digitalização do mercado de educação (especialmente Gamificação de processos) e como isso tem sido um diferencial para os principais players como Eleva e Arco ampliarem suas vantagens na liderança do mercado.

    Encontrei difilculdade para consultar dados absolutos sobre o mercado como um todo, para perspectiva geral e macroecônomica. Vc recomenda algum material interessante para consulta?

    Se puder recomendar fontes de dados macro sobre o mercado privado ajudaria muito!

    Obrigado e novamente, parabéns pelo espaço!

    Oswandir
    Internacionalista e Economista pela FACAMP

    Resposta
  • 15 de setembro de 2023 em 17:48
    Permalink

    Oii, Raphael.

    Gostei muito desse artigo do blog

    Estou fazendo uma pesquisa para a minha dissertação e os dados que você citou na parte de ”Movimentação financeira na educação básica no Brasil propicia o surgimento de edtechs”, sobre 60% para mensalidade e 40% para atividades complementares, me seriam muito útil. Você sabe me dizer a fonte original dessa informação, por favor. Seria de grande ajuda!!!

    Resposta

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